Lina Bo Bardi é um paradigma da arquitetura moderna brasileira. Italiana
de origem, chegou a São Paulo nos anos 40 junto ao seu marido Pietro
Maria Bardi. O casal não deixou mais o país. Em 1951, Lina se naturaliza
brasileira, ano que coincide com a inauguração da sua primeira obra
construída, nada menos que a Casa de Vidro, localizada no bairro do
Morumbi, zona sul de São Paulo. Inicialmente idealizada como residência
do casal e sede do Instituto de Arte Contemporânea, a Casa de Vidro foi a
primeira residência do bairro, até então dominado pela Mata Atlântica,
quando a expansão da cidade começava a ocupar a outra margem do rio
Pinheiros.
Uma das primeiras intenções de Lina foi conservar o perfil natural do
terreno, muito inclinado, o que influiu para que a frente da casa fosse
construída sobre pilotis, mas sem deixar de fazer referência a um dos
cinco pontos da arquitetura propostos por Le Corbusier. A parte de trás
da residência ficou, por conseguinte, apoiada em muros de concreto
diretamente sobre o terreno. Esse aspecto maciço da porção posterior se
contrapõe com a leveza da porção sul e sua fachada principal, criando um
rico diálogo entre transparência e opacidade, natureza e construção,
interior e exterior, que trás novamente à mente os exemplos das
primeiras casas corbusierianas.
A estrutura vertical se compõe por esbeltos tubos de aço, dispostos em
um modulação de quatro módulos de largura por cinco de profundidade.
Formam o pilotis da residência e avançam pela laje do piso superior até
alcançarem a laje de coberta, ambas de concreto armado. A casa se vê,
assim, como uma caixa transparente flutuante em meio da natureza. De
modo a tirar o máximo de proveito da privilegiada vista que se despega
para a cidade, a casa foi projetada com o mínimo de proteção, de tal
modo que as grandes janelas não possuem guarda-corpo. Assim, ao mesmo
tempo que a casa atua como um refúgio, proporciona uma vida em constante
contato com a natureza e contemplação da paisagem. O casal Bardi
pretendia, com isso, desfrutar dos nasceres e pores-do-sol, das chuvas e
tempestades, das mudanças naturais.
A casa está dividida em duas porções bem definidas. A primeira
representa o salão de estar e jantar, dominada pelas grandes aberturas
de vidro. Ocupa toda a largura e os dois primeiros módulos da
profundidade da residência. Ao centro desse salão se encontra um pátio,
no qual foi mantida uma árvore remanescente da vegetação local. Além de
servir como elemento de amenização climática, possibilitando ventilação
cruzada nos dias quentes, esse elemento reforça o desejado contato com a
natureza, além de, mais uma vez, fazer menção aos mestres modernos,
através das casas-pátio de Mies van der Rohe. Uma escada aberta, feita
com estrutura de aço e degraus de granito, é o acesso principal ao andar
superior da casa. Seu desenho de linhas simples é o único elemento que
se sobressai no vazio do pilotis.
A segunda porção é formada pela área dos dormitórios e de serviços, os
quais ocupam os três módulos posteriores e configuram a parte maciça e
opaca da casa. Os dormitórios são adjacentes ao salão de estar e a área
de serviços forma o último módulo, a norte. Conectando essas duas faixas
está a cozinha, que junto a outro patio aberto, mais amplo que aquele
do salão de estar, conformam a faixa central dessa porção maciça da
residência. O patio é mais uma vez um elemento essencial para o conforto
da casa, permitindo a ventilação de todos os dormitórios. No primeiro
piso, além disso, se encontram as zonas de máquinas e a garagem.
Em 1987, a Casa de Vidro foi tombada pelo CONDEPHAAT como patrimônio histórico do estado de São Paulo e desde 1995 é sede do Instituto Lina Bo e P. M. Bardi e abriga parte da coleção de arte adquirida pelo casal ao longo de suas vidas.
Está aberta para visitação desde o dia 04 de abril, e permanecerá até o dia 26 de maio. A exposição foi concebida como uma dupla homenagem à Casa de Vidro e à
sua criadora. A diversidade de artistas expondo na mostra é prova do
duradouro fascínio que o trabalho de Lina Bo Bardi continua a exercer.
Nesse projeto 100% do piso interno e parte do externo são compostos de pastilhas Vidrotil.
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